Talvez um outro título para este texto seria: Produção de personalidade em massa ou pessoas fabricadas.

Cérebro colonizado é uma expressão da  qual corriqueiramente tenho empregado em alguns diálogos reflexivos para referir-me a um sistema embutido externamente ou internamente no cérebro do sujeito. Externamente como exemplo, podemos pensar na colonização provinda pelos costumes do ambiente (padronização comportamental) ou padrões midiáticos globalizados (estereotipação do ser) e internamente temos o sujeito que se diz ser normal,  sendo que estes que se julgam normais ou se comportam de forma normal, (sofrem de normose) seguem um padrão comportamental aceito pela grande maioria sem muitas reflexões, ou seja, possuem o cérebro colonizado e não sabem.

Para ficar mais claro, vamos imaginar um sujeito que nasceu no hospício e nunca saiu de lá, as pessoas que moram no hospício são normais para ele, pois ele sempre teve contato com aquele tipo de pessoa e partilhou dos mesmos costumes. Mas quando este sujeito sai do hospício e conhece outros tipos de pessoa, ele percebe que as pessoas que vivem no hospício são loucas e as que estão do lado de fora são diferentes, pois agora ele pode comparar  os tipos de pessoas. É como uma pessoa que nunca viajou para lugares diferentes no mundo e que não teve contato com outras culturas diferentes da sua. Para esta pessoa, a sua cultura possui costumes normais que são aceitos socialmente, enquanto os costumes da outra cultura é uma coisa de louco. Como diz o poeta: Para ver a ilha é necessário sair da ilha.

É como pensar que escolhemos gostar ou não de algo ou que escolhemos ser ou não ser de determinado jeito, mas quando começamos a estudar a nós mesmo (estuda-te a ti mesmo), percebemos que muitas de nossas escolhas, gostos ou crenças, foram embutidas pelo espaço de convívio, (padronização da personalidade), como por exemplo: gosto deste tipo de música pois aqui sempre tocou este tipo de musica ou penso assim, porque todos aqui sempre pensaram assim ou me comporto assim pois todos aqui se comportam assim. Estes são exemplos de convenções sociais construídas ao longo do tempo e que muitas vezes limitam a capacidade de desenvolver a personalidade do ser. Por isso vemos muitas pessoas com grande potencial para se tornarem grandes seres humanos mas que encontram-se com o potencial não desenvolvido devido as limitações culturais as quais foi e está submetido.

Vamos observar uma das características padrão do cérebro colonizado.

Primeiramente podemos refletir sobre o comportamento mental. Neste sentido temos que uma pessoa com o cérebro colonizado pensa de modo parecido (reprodução do pensamento) ou até mesmo igual com as ideias de outros sujeitos ou grupos. Sabemos que reproduzir é fácil, agora pensar e bem pensar, como elaborar o pensamento com clareza e fazer bom uso do mesmo é difícil. O mesmo ocorre com uso das palavras. Raras são as pessoas que empregam a palavra com atenção. Costumo dizer que se as pessoas começassem a pagar para usar as palavras (5 cent cada palavra) elas passariam a fazer melhor uso das mesmas. Como a utilização é gratuita, as pessoas não se preocupam em empregar as palavras de modo correto.

É interessante notar que compreendemos o mundo através das palavras. Colocamos nomes nas coisas e nomeamos os pensamentos, sensações e sentimentos além de contar histórias, fatos, acontecimentos ou para descrever algo sobre a realidade. Sendo assim, entendemos o mundo através das palavras. Mesmo quando chegamos as mais profundas reflexões onde a palavra não alcança, elas se calam e então escutamos sua essência, o silêncio. Por isso, dizemos que: quem sabe ouvir, sabe falar bem.

Podemos concluir que o modo como me compreendo, compreendo o outro. A profundidade da minha relação comigo mesmo, é a profundidade da relação que consigo estabelecer com o mundo e com o outro. As palavras são as ferramentas pela qual interpretamos o mundo e é através delas que apresentamos nosso recheio interno, nosso mundo pessoal, ou seja, a nós mesmo. Sendo assim, se estou triste, o mundo está triste. Se estou bem, a vida é uma benção. Podemos dizer: A medida do meu amor próprio será a medida da qual eu amarei você, o modo como eu me respeito será o modo como eu respeitarei você. E também o contrário, a medida da minha infelicidade, do meu medo ou das minhas frustrações pessoais, serão as mesmas medidas das quais empregarei para interpretar o mundo, os fatos, as coisas, as pessoas e a mim mesmo.

Quando encontramos uma pessoa da qual compartilhamos um sonho pessoal ou um objetivo do qual estamos buscando, podemos escutar dois tipos de resposta: vai dar tudo certo! ou então, esquece isso, você não vai conseguir. Qual a diferença entre as respostas? A diferença se encontra na experiência pessoal de quem deu as respostas. Se sou uma pessoa que motiva outras pessoas, é porque motivo a mim mesmo. Se desacredito dos sonhos e objetivos de uma pessoa, é porque desacredito dos meus próprios sonhos e objetivos, ou seja, se ao longo da vida o sujeito acumula experiências negativas em distintos âmbitos da vida, como nas relações amorosas, nos planos de carreira ou no âmbito social, temos que, as experiências negativas do sujeito vão se sobrepondo uma a outra em forma de camadas. É como se as frustrações existenciais se acumulassem sob uma única coisa da qual chamamos, personalidade. Por isso podemos entender o motivo do qual algumas pessoas possuem uma personalidade saudável (fluxo natural de conteúdos internos) e outras parecem estar travando uma batalha com sigo mesmo, ou seja: A guerra do sujeito não é comigo, a guerra do sujeito é dele com ele mesmo.

Por isso podemos pensar que somos como um prisma, e que o prisma é a mente. Quando a mente esta saudável, com equilíbrio de conteúdos, o prisma está limpo. A realidade passa pelo prisma e sai limpa, sem distorções. Quando a mente está perturbada e desequilibrada, com complexos irresolutos, a realidade acaba sendo distorcida através de interpretações errôneas. Sendo assim, podemos concluir que vemos as coisas do mesmo modo como vemos a nós mesmo.

Lembro de certa vez da qual expliquei a um amigo que a mente pode ser comparada a um prisma ou a uma esponja. O prisma filtra a realidade de acordo com sua capacidade de interpretar a realidade (senso crítico) e a esponja suga a realidade sem poder escolher o que é proveitoso ou degradante.

O cérebro colonizado seria essa esponja com pouca ou quase nenhuma capacidade de filtrar o que é bom do que é ruim e que é levada pra cima e pra baixo dentro do crânio do sujeito. Também podemos entender a mente como um holograma: A mente projeta a realidade e a nós mesmo a partir da sua capacidade (experiência de vida, quantidade e qualidade do saber) e do seu tamanho. Se temos a mente fechada, nos auto-limitamos e limitamos a realidade, além de limitar as pessoas segundo nossa interpretação limitada, se temos uma mente aberta compreendemos a realidade de outro modo.

Então, como descolonizar o cérebro? Como desconstruir o que foi condicionado em mim através da programação cultural, dos costumes e das formas padronizadas de pensar. Como aprender a pensar e não reproduzir? Como conhecer a essência das palavras? Qual é a medida do amor próprio que estou empregando para mim? Estou me amando ou desamando a mim mesmo?

Sabemos que uma das melhores formas de encontrar respostas para as perguntas é fazendo boas perguntas, elaborando-as de um modo mais apropriado. E a melhor forma de elaborar boas perguntas é ter conhecimento. Por isso sabemos: Aquele que detém o conhecimento, detém o poder.